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Sou um simples pescador/ pesco sonhos nos mares da alma/ sonhos esquizofrênicos e psicodélicos/ transmutados em realidades desejadas/ à minha imagem e semelhança

domingo, 11 de abril de 2010

Quem pode falar sobre o ser?

Quem pode falar sobre o ser?
Benedito de Sales (Marcelo) – Graduando em Filosofia e Mestrando em Lingüística – UFPa.
Escrevi este texto ao me despedir do pensionato no qual eu morava

Quando decidi ir embora daqui, pensei que poderia também revelar uma verdade àqueles que acham que podem falar algo sobre qualquer elemento material ou imaterial presente neste mundo. Sinto muito informar a essas pessoas, mas não é possível fazer isso! Não há como sopesar o ser, sem mergulhar nesse ser e viver essa experiência no silêncio sem qualquer esboço de pensamento, pois qualquer manifestação da linguagem, cai-se no erro de achar que nossa verbalização é verdadeira, quando ela não passa de representação.
Com efeito, as línguas são compostas de signos convencionais e arbitrários e, por conta disso, tudo o que se fala ou pensa não passa de representação, o ser do qual se fala, não é mais o ser original, mas o ser representado, com base em idiossincrasias do falante; além disso, a relação de poder que tem como suporte a língua, abraça com seus longos tentáculos a maioria das pessoas e o gregarismo da repetição os faz falar apenas por meio daquilo que se arrasta na língua: os estereótipos, os lugares-comuns, os clichês, e tudo não passa de pura doxa – opinião. Dessa forma, todos devem concordar que falar sobre o ser é perda de tempo, quando se utiliza de linguagem e ainda age como suporte de um discurso controlador.
Tudo o que falamos, pensamos, refletimos, são apenas “micagens”que servem para manutenção do status quo. Na verdade, só se fala, pensa ou reflete sobre algo, a partir daquilo que o discurso controlador permite que seja falado, pensado ou refletido. Com base nisso tudo, antes de se falar algo sobre alguém, antes de se pseudosopesar alguém e, sobretudo, antes de se metadiscursar sobre alguém, é preciso livrar-se da linguagem gregária e dos discursos autoritários de outrem.
À guisa de conclusão, eis o motivo pelo qual vivi com indiferença todo esse tempo aqui, pois era ultrajante à minha intelectualidade entrar em contato com uma linguagem gregária, estereotipada e vítima de discursos de poder. Assumi, portanto a condição sine qua non da prudência: um ser superior à alegria e à tristeza, ao medo e à compaixão, ao orgulho e à humilhação; um ser superior a todas as coisas, que não odeia ou ama ninguém, mas aceita, também, com indiferença o repúdio total ou o afeto dos outros, pois o que é demasiado importante para a maioria, não possui qualquer interesse a quem é realmente prudente, um ser inacessível, algo realmente desejável.