Incrível como o universo
se organiza para cumprir a sua lei. Chaga a ser absurdo, incoerente do que ele
é capaz de fazer! Já faz algum tempo que eu percebi que nas engrenagens do
universo, eu sou uma pequeníssima engrenagem que tem de girar sem nunca se apaixonar
pela outra engrenagem. Ah, que metáfora mais sem graça é essa minha. Se bem que
sem graça era o que meu último grande amor falava sobre mim:
" mas que sem
gracice!!! dizia.
E hoje, de madrugada.
Depois de acordar e notar a ausência daquela magreza em minha cama, sem os seus
travesseirinhos marrons, e suas frases bobonas: “thury thero O.o” comecei a
pensar como o universo estragava todos os meus amores. Lembro da primeira
menina por quem eu me apaixonei... O nome dela era Adilza, eu a vi uma vez, em
uma aula de sábado, quando a professora reunia todas as sétimas séries do
Colégio Pedro Teixeira. Eu fiquei encantado, e todos os sábados eu
esperava anciosamente pela aula (fato meio estranho para um
adolescente de 14 anos, que não era muito fã de matemática).
Eu só a via no sábado
porque ao longo da semana eu não podia, era do tipo tímido, que não interagia,
sofria bullying, então era preferível ficar na sala durante o intervalo.
Naquele ano, 1993, eu só a
via no sábado. Ela era o tipo de menina que eu havia idealizado: calma,
simples, humilde etc. Nunca tive coragem de chegar nela e o ano terminou, eu
quase fui reprovado na dita cuja da matemática, sabia que Adilza morava no
mesmo bairro, mas eu quase não saía pra lugar nenhum. Só fui rever essa garota no
ano seguinte, na oitava série, por ironia do destino, de Deus, ou do universo,
como eu penso hoje, Adilza era da minha turma aquele ano. Eu estava com um
misto de medo e alegria, pois teria o ano todinho para aprender matemátia?,
não, para conquistar Adilza.
Mas como fazer isso se eu
não era popular, se eu não era bonito, se eu não era bom nos esportes, se....
Nesse dia tive a brilhante idéia: Me tornaria o garoto mais inteligente da
turma, tiraria as melhores notas, impressionaria Adilza, eu tinha motivação e
foi o que aconteceu. Fiquei mais confiante, comecei a ganhar o respeito de
todos pois só tirava as melhores notas em todas as matérias e é obvio que havia
chamado a atenção da Adilza também.
Eu colocava bilhetinhos
apaixonados e cartões melosos dentro do caderno dela e assinava BSS, as
iniciais do meu nome. Sabia que ela, sendo mulher, certamente teria curiosidade
para checar na lista quem tinha o nome que começava com aquelas iniciais. Eu
deixei de lado meus rocks para ouvir músicas românticas no rádio, oscilava os
programas good times e amor sem fim de duas estações diferentes, perdia a fome,
pensava nela todo instante.
Um dia eu resolvi falar
com ela, quase no final do ano, acho que era dezembro, o ano estava acabando,
minhas médias eram ótimas, mas na ingenuidade de adolescente, eu não havia
pensado na possibilidade de ser rejeitado.
Adilza era uma menina
reservada, só tinha uma amiga de quem não desgrudava, eu havia tentado me
aproximar várias vezes, mas ela nunca estava sem essa amiga.
Um dia, eu decidi, vai ser
hoje. Comprei uma rosa perfumada, elaborei um roteiro da conversa, decorei esse
roteiro, cheguei cedo no colégio, sentei no meu lugar de costume. Sabia que ela
chegava cedo também.
Quando ela entrou, eu
gelei, esquentei, fiquei sem vida por uns instantes e quando ela passou por
mim, ela estava sozinha, ela olhou na minha direção e soltou a frase que me
atingiu como um dardo, traspassando minh’alma:
“sujou” ela disse. E logo
atrás, lá vinha a amiga dela que completou a frase: “geral”
Eu morri mais uma vez
naquela carteira, Escondi a rosa na mochila (mais tarde dei essa rosa para a
minha mãe, ainda bem que a mamis nunca ficou sabendo que a rosa teria sido
pré-rejeitada por uma menina chamada Adilza) E a frase cantava em uníssono em
minha cabeça:
“Sujou....geral”.
Mais tarde fiquei sabendo
que a amiga dela gostava de mim e fazia de tudo pra Adilza me ter antipatia.
Uma maneira bem sagaz desse universo organizar seus planos de me manter uma
engrenagenzinha solitária. Nunca troquei uma só palavra com ela, nunca. E foi
assim, que aos 15 anos, eu perdi, deixei de ganhar, sei lá, enfim, que meus
planos no amor foram frustrados, meu primeiro amor.